20/02/08

Bento XVI: orientações para superar a crise da vida consagrada

CIDADE DO VATICANO, terça-feira, 19 de fevereiro de 2008.
Publicamos o discurso que Bento XVI dirigiu esta segunda-feira, 18 de fevereiro, aos membros do Conselho Executivo das Uniões Internacionais dos Superiores e Superioras Maiores, reunidos no Vaticano para refletir sobre «alguns aspectos particularmente atuais e importantes da vida consagrada».
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Caros irmãos e irmãs,

no término desta manhã de reflexão comum sobre alguns aspectos particularmente actuais e importantes da Vida Consagrada neste nosso tempo, quero, antes de tudo, agradecer ao Senhor, que nos ofereceu a possibilidade deste encontro muito profícuo para todos. Tivemos chance de analisar as potencialidades e as expectativas, as esperanças e as dificuldades que encontram hoje os Institutos de Vida Consagrada. Escutei com grande atenção e interesse os vossos testemunhos, as vossas experiências e tomei nota das vossas perguntas. Percebemos todos como na moderna sociedade globalizada se torna sempre mais difícil anunciar e testemunhar o Evangelho. Se isto vale para todos os baptizados, com maior razão é real para as pessoas que Jesus chama de modo mais radical através da consagração religiosa. O processo de secularização que avança na cultura contemporânea não respeita, de facto, infelizmente, nem mesmo as comunidades religiosas.

Não se pode, todavia, deixar-se tomar pelo desencorajamento, porque se hoje, como foi oportunamente recordado, não poucas nuvens se adensam no horizonte da vida religiosa, por outro lado, estão emergindo e em constante crescimento sinais de um providencial despertar, que suscita motivos de consoladora esperança. O Espírito Santo sopra fortemente em todo lugar na Igreja, suscitando um novo empenho de fidelidade nos Institutos históricos e junto a novas formas de consagração religiosa em consonância com as exigências do tempo. Hoje, como em toda época, não faltam almas generosas dispostas a abandonar todos e tudo para abraçar Cristo e seu Evangelho, consagrando a seu serviço sua existência em comunidades marcadas pelo entusiasmo, generosidade e alegria. Aquilo que caracteriza estas novas experiências de Vida Consagrada é o desejo comum, partilhado com pronta adesão, de pobreza evangélica praticada de modo radical, de amor fiel à Igreja, de generosa dedicação ao próximo necessitado, com especial atenção por aquela pobreza espiritual que caracteriza de maneira marcada a época contemporânea.

Muitas vezes eu - como também os meus venerados Predecessores - quis reafirmar que os homens de hoje sentem um forte apelo religioso e espiritual, mas estão prontos a escutar e seguir só quem testemunha com coerência a própria adesão a Cristo. E é interessante notar que estão ricos de vocações justamente aqueles Institutos que têm conservado ou escolheram um estilo de vida geralmente muito austero, e de todas as formas fiéis ao Evangelho, vivido “sine glossa”. Penso em tantas comunidades fiéis e nas novas experiências de Vida Consagrada que vós bem conhecestes; penso no trabalho missionário de muitos grupos e movimentos eclesiais dos quais brotam não poucas vocações sacerdotais e religiosas; penso nos jovens que abandonam tudo para entrar em mosteiros e conventos de clausura. É verdade – podemos dizer com alegria – também hoje o Senhor continua a mandar operários para sua vinha e a enriquecer seu povo com tantas e santas vocações. Por isto o agradecemos e pedimos para que ao entusiasmo das escolhas iniciais – muitos jovens, de facto, assumem o sentido da perfeição evangélica e entram em novas formas de Vida Consagrada após comoventes conversões –, para que, dizia, ao entusiasmo das escolhas iniciais siga o empenho da perseverança em um autêntico caminho de perfeição ascética e espiritual, num caminho de verdadeira santidade. (...)

Entrando no terceiro milénio, meu venerado predecessor, o Servo de Deus João Paulo II, convidou toda comunidade eclesial a “partir novamente de Cristo” (Carta Ap. Novo millennio ineunte, n. 29 e ss.). Sim! Também os Institutos de Vida Consagrada, se quiserem manter ou reencontrar sua vitalidade e eficácia apostólica, devem continuar a “partir novamente de Cristo”. É Ele a rocha firme sobra a qual deveis construir vossas comunidades e todo vosso projecto de renovação comunitária e apostólica.

Caros irmãos e irmãs, obrigado de coração pelo cuidado que vós colocareis em cumprir o vosso difícil serviço de guia das vossas famílias religiosas. O Papa está junto de vós, encoraja-vos e assegura às vossas comunidades uma quotidiana lembrança na oração. Terminando este nosso encontro, quero ainda uma vez saudar com afecto o cardeal secretário de Estado e o cardeal Franc Rodé, como também cada um de vós. A vós peço, por outro lado, que levem a minha saudação a todos os vossos irmãos e irmãs, com um pensamento especial para os anciãos que serviram bastante os vossos Institutos, os enfermos que contribuem com a obra da redenção com o seu sofrimento, os jovens que são a esperança das vossas Famílias religiosas e da Igreja. Todos vos confio à materna protecção de Maria, modelo excelso de vida consagrada, enquanto cordialmente vos abençoo.

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